Audiência Pública Situação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, sobre a demissão de funcionários e redução de rede de atendimento
- 06/06/2017
- Postado por: annec
- Categorias: Congresso Nacional, News

A possibilidade de a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) demitir funcionários e reduzir sua rede de atendimento e de serviços em todo o país foi tema de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) nessa terça-feira (6). A iniciativa foi do senador Paulo Rocha (PT-PA).
Senador Paulo Rocha (PT-PA)
O senador Paulo Rocha abriu os trabalhos. Para o senador, a ECT é uma das instituições com maior credibilidade no Brasil, com missão social definida na Constituição e com uma capilaridade de grande relevância para a integração nacional e o desenvolvimento regional, em especial na Região Amazônica. Apesar disso, afirma ele, sob o argumento de equilibrar as contas da instituição, o governo federal teria a intenção de privatizar a empresa e quebrar o monopólio postal.
Guilherme Campos (Presidente dos Correios):
“Senhor presidente, senador Paulo Rocha, obrigado pela oportunidade de estar presente nessa importante comissão do Senado para nós podermos falar a respeito de todas as ações promovidas dentro dos Correios, na nossa relação importante com todos os representantes trabalhadores que aqui estão junto conosco nessa mesa, nessa audiência pública.”
“Dá minha saudação a todos aqueles que já foram previamente referenciados, agradecer aqui a presença dos vice-presidentes, da Ilene, vice-presidente dos Correios, do Henrique Dourado, meu chefe de gabinete, o Miguel Martinho, e o nosso assessor especial, também deputado federal Geraldo Tadeu.”
“Presidente, é uma grande honra poder estar com essa missão junto a uma empresa tão importante, tão querida pelos brasileiros, que sintetiza muito do espírito do Brasil. A sua presença nacional, a sua capilaridade tornam os Correios uma empresa única, com 354 anos de história. E na sua síntese, na sua gênese, uma empresa de comunicação, com a tecnologia disponível à sua época. E lá nos primórdios, a comunicação através das correspondências, correspondência impressa, correspondência escrita, mas através da correspondência da carta. E a carta assim o foi até meados, até final do século passado.”
“Outras tecnologias vieram substituir as correspondências: primeiro a telefonia, que evoluiu de uma maneira significativa nos últimos 10, 20 anos, e toda uma tecnologia digital que não só alterou como nos comunicamos, mas o nosso próprio dia a dia, alterou toda a sociedade. E os Correios não estão fora dessa sociedade.”
“Porém, presidente, os Correios que nasceram como empresa de comunicação, também nasceram como uma empresa pública, detendo um monopólio postal. Isso permitiu que ela chegasse hoje com esse tamanho, com essa presença. E pelo impacto dessas novas tecnologias, impacto esse que no mundo postal tem uma grande representatividade aqui no Brasil e no mundo, outras alternativas para sua atuação são necessárias para que os Correios possam permanecer por mais outros 354 anos.”
“A necessidade de se adaptar, a necessidade de se adequar a essa nova realidade é fundamental. Todos os grandes serviços postais do mundo passaram por essa mudança, por essa transformação, e há bem mais tempo. E cada país achou a sua transformação mais adequada para a sua realidade. Nós aqui no Brasil também vamos achar a nossa. Mas uma constatação é total: a constatação da queda do volume de objetos postais referentes ao monopólio, e isso altera em muito o trabalho da empresa, altera em muito as finanças da empresa.”
“Saudar a presença também do Ari, presidente do Conselho dos Correios, que aqui também nos prestigia. Muito obrigado, Ari. E tudo isso que é necessário ser promovido não o foi há 15, há pelo menos 10 anos aqui no Brasil. E o impacto dessa falta de adaptação ao novo mundo está sendo sentido hoje, principalmente nos dois últimos anos, pelo resultado da empresa: um resultado muito preocupante, resultados da ordem de bilhões de prejuízo, que impactam de uma maneira muito séria as finanças da empresa.”
“Tudo isso vem acontecendo, e nós, desde o momento que tivemos a honra de ter sido indicado pelo ministro Gilberto Kassab, ministro de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, e nomeado pelo presidente Temer, com a missão de recuperação dos Correios.”
“E nesse momento, nos cabe um esclarecimento que é inclusive um dos temas da convocação dessa audiência pública: é a questão da privatização. Nem o presidente Michel Temer, nem o ministro Kassab, nem esse presidente que aqui está deseja e acha que é viável a privatização dos Correios. Em nenhum momento foi colocado, foi pontuado dessa forma. Tem que dar tudo errado para que a solução dos Correios seja pelo caminho da privatização.”
“Pelas suas singularidades, pelas suas características, esse trabalho está presente nos 5.570 municípios do país, e dá aos Correios uma característica totalmente diferenciada das empresas públicas do país. Essa característica de integração nacional, essa capilaridade.”
“Saudar aqui a chegada do deputado Leonardo Monteiro, presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios, agradecendo aí pelo prestígio da presença. Essa singularidade, essa característica dos Correios o torna muito difícil de uma possível privatização. Privatização pelo cenário atual, duvido que aparecesse algum interessado nessa privatização.”
“Um exemplo disso nós tivemos aqui durante na empresa, que foi no que tange ao Banco Postal. Banco Postal, todos aqui sabem, mas muitos daqueles que não nos ouvem, é hoje operado pelos Correios, sendo os Correios os correspondentes bancários do Banco do Brasil. Isso foi num processo de disputa com aquele que antecedeu o Banco do Brasil, que foi o Banco Bradesco. E nesse processo de disputa, o Banco do Brasil fez uma oferta muito forte, muito representativa, levou os serviços, e terminariam pelo contrato no dia 30 de novembro.”
“Presidente, senador Paulo Rocha, imagina o senhor que essa oferta de trabalhar com o correspondente bancário no Banco Postal não teve nenhuma empresa no Brasil que quis entrar na disputa pelo Banco Postal. Banco Postal que hoje representa em mais de 1.700 cidades do país a única atividade do setor financeiro daquela cidade. Ninguém lá está presente, ninguém do setor financeiro está, somente o correspondente bancário do Banco do Brasil através dos Correios no Banco Postal. Imagine o senhor se nós não fôssemos ao presidente, primeiro ao ministro, depois ao presidente Temer, e ele com a sua sensibilidade, ter promovido junto ao Banco do Brasil uma prorrogação do contrato para que os serviços pudessem ser prestados. E isso deu uma sobrevida ao Banco Postal.”
“Quando que poderia se imaginar que não haveria proponentes numa disputa do Banco Postal? Vê como é que estava a nossa situação. Só para lembrar que uma coisa é aquilo que se pensa internamente, e outra coisa é aquilo que está em andamento no mundo lá fora, como é que o mercado se posta, como é que tem que ser as iniciativas da nossa empresa.”
“E desde o início da missão de recuperação da empresa, fazendo ajustes, ajustes extremamente desgastantes na relação com os funcionários, ajustes que de nada nos dão prazer em estar promovendo, porque cortar custos significa cortar em todas as áreas. E graças a essa postura de se cortar as despesas, nós desde outubro do ano passado, mais precisamente dia 5 de outubro, promovemos aí um congelamento dentro do nosso orçamento e evitamos um aumento de despesas no ano de 2016 da ordem de R$ 1 bilhão. Isso foi extremamente expressivo e importantíssimo pela manutenção da saúde financeira da empresa.”
“Só para dizer de uma ação muito contundente: paralelo a isso, eliminação de funções que são funções gratificadas dentro da folha, com vários níveis de serviço, que promoveu uma economia representativa. Promovemos uma mudança significativa na política comercial da empresa, com foco no cliente, com a concentração das atividades. E desde novembro do ano passado, conjuntamente com a consultoria contratada para redesenhar a empresa, preparando para aquilo que foi apresentado há praticamente 15 dias atrás, que é a nova estrutura dos Correios: uma estrutura focada no negócio, aproveitando sinergias, eliminando níveis hierárquicos, aproximando quem está na operação de quem está na direção, eliminando superposição de áreas e promovendo um enxugamento expressivo na estrutura, eliminando mais de 400 posições de gerência, mais de 20 departamentos, e aí por cascata por toda a empresa.”
“Tudo isso vem acontecendo para que nós revertamos esse cenário de prejuízos. Juntamente a isso, veio o plano de desligamento incentivado, focado naqueles funcionários da empresa já aposentados pelo INSS, com mais de 55 anos e mais de 15 anos de contribuição aos Correios. Desse elenco dos 117 mil funcionários da empresa, nós temos aí 17 mil que podem ser encaixados dentro das prerrogativas, e tivemos uma adesão até agora da ordem de 7 mil funcionários.”
“Essa posição do PDI é muito importante para que nós consigamos dar uma aliviada no custo operacional de pessoal da empresa, porque o custo de pessoal dentro da empresa, somando salário e benefício, é da ordem de mais de 60%. E não existe nenhuma empresa congênere a nossa pelo mundo que possa fazer frente a todos esses desafios com uma representatividade tão alta da folha de pagamento nos custos da empresa.”
“O PDI é um primeiro passo. Vamos avaliar até o meados desse mês quanto que vai ser a adesão ao PDI. Correto, ali, até que dia? 16? Até hoje? Hoje é o último dia. Dia 6 é o último dia para adesão, e a saída até o dia 16. Então temos esse prazo para que nós possamos fazer a avaliação do impacto do PDI.”
“Já encerrando, presidente, na necessidade da empresa, e não fica descartado, vindo aqui ao segundo ponto que foi colocado na convocação dessa audiência pública: a possibilidade de uma demissão motivada. Precisa mais tempo? Só mais dois minutinhos.”
“A possibilidade de uma demissão motivada… Isso não é segredo, não faz parte de nenhum plano maligno, mas em função da necessidade da empresa, pode ser colocada na pauta. E cabe aqui também, presidente, deixar bem claro que todas essas mudanças que estão ocorrendo, nós estamos fazendo todo o trabalho consertando o carro, e o carro tá andando. Trocando pneu, acertando o motor, acertando suspensão, acertando freios, com o carro andando. E o reflexo disso tudo nós teremos daqui para o final do ano.”
“Lembrando que o resultado da empresa nesse primeiro quadrimestre é um resultado que muito nos preocupa. Nós registramos, pelos números preliminares, um prejuízo da ordem de R$ 800 milhões, sendo que desses R$ 800 milhões, R$ 600 milhões se referem a pagamentos do plano de saúde, o nosso Postal Saúde. Daí vem a nossa preocupação com o resultado daqui pro final do ano. A nossa meta é virar esse ano com lucro, sair desse mundo, desse cenário de prejuízo, para que os Correios possam ter a sua sustentabilidade e possam ter a sua saúde financeira restabelecidas.”
“É uma grande empresa, uma empresa fantástica, composta por funcionários comprometidos, que sabem e conhecem do seu serviço, que precisa de ajustes, e nós estamos promovendo esses ajustes, e temos certeza que vai dar certo.”
“E para encerrar, presidente, eu vou encerrar com as palavras de uma funcionária dos Correios que se aposentou, que aderiu ao PDI, e fez a seguinte colocação na sua saída: ‘Eu sou muito feliz por ser funcionária dos Correios. Tudo que eu tenho na vida eu consegui pelo meu trabalho nos Correios. E peço a vocês que fiquem, não deixem a peteca cair, porque dos Correios vocês vão tirar o seu salário, a sua subsistência, e vão garantir também o salário e a subsistência de todos aqueles que se aposentarem. Por isso, a responsabilidade daqueles que ficam fica duplicada: é por vocês e por todos aqueles que contribuíram com a empresa durante toda uma vida.’”
“Muito obrigado pela oportunidade. Sempre que o Senado houver por bem que nós participemos de uma audiência pública, nós estamos à disposição. E mais uma vez obrigado pela deferência, senador Paulo Rocha. Boa tarde.”
Presidente da Associação dos Analistas dos Correios do Brasil, Sr. Jailson Pereira:
Senador Paulo Rocha, meu conterrâneo, agradeço a oportunidade e cumprimento toda a sociedade paraense. Também saúdo o presidente dos Correios, Guilherme Campos, os dirigentes das federações sindicais, sindicatos filiados, associações e a alta administração dos Correios, incluindo nosso vice-presidente, Darlene, e o chefe de gabinete, Miguel.
Agradeço ainda a presença do deputado federal Leonardo Monteiro, presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios, que tem nos apoiado em todas as horas, assim como o deputado Francisco Alencar e todos os cidadãos brasileiros que defendem os Correios.
Os Correios cumprem um papel essencial no Brasil, garantindo serviços postais em todo o território nacional, conforme determina a Constituição. Somos um grande integrador da economia, presente em mais de 5.500 municípios – em 30% deles, somos a única opção de acesso bancário. No Amazonas, por exemplo, somos a única instituição federal em 61 cidades.
Realizamos 12,5 milhões de atendimentos diários em nossa rede, com 6.470 agências próprias e 1.002 franqueadas. Além disso, regulamos os preços do mercado de encomendas, garantindo serviços acessíveis em regiões remotas. Empregamos 115 mil trabalhadores, sustentando quase 400 mil pessoas considerando suas famílias.
Defendemos que os Correios sejam reconhecidos como autarquia federal, com imunidade tributária, conforme jurisprudência do STF. Essa empresa não pode ser tratada apenas como uma entidade financeira – ela é um serviço público essencial.
Apresentamos soluções:
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Fidelização das postagens públicas – geraria receita anual de R$ 20 a 40 bilhões.
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Ampliação dos correspondentes bancários – atendendo todo o setor financeiro, não apenas um banco.
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Revisão da conta pós-emprego – reduziria o déficit em R$ 1 bilhão imediatamente.
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Devolução dos R$ 6 bilhões repassados à União como antecipação de dividendos, que esvaziaram nosso caixa.
A direção dos Correios deve ser exercida por profissionais qualificados, preferencialmente de carreira. Precisamos garantir a universalização dos serviços postais, mantendo agências em funcionamento e fortalecendo a logística nacional.
Finalizo com um apelo: nossa luta não é apenas por empregos, mas pelo desenvolvimento do país, especialmente nas regiões mais pobres. Peço que todos – autoridades, parlamentares e a sociedade – unam-se a nós.
Que Deus abençoe a todos e ilumine nossas decisões. Obrigado!
Presidente da Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Correios, José Aparecido Gândara:
“Obrigado, senador Paulo Rocha, por permitir que a Findec participe desta audiência pública.
Presidente, quero começar contextualizando o que são os Correios hoje. Uma empresa com 354 anos de história, e eu, com 40 anos de trabalho aqui, posso afirmar: não é de hoje que enfrentamos crises. Passamos pelo período militar, com perseguições políticas e mais de 30 mil demissões. Lutamos para construir os direitos que temos hoje, como nosso acordo coletivo de trabalho.
Infelizmente, as gestões políticas que passaram pelos Correios só prejudicaram a empresa. A prioridade sempre foi acomodar apadrinhados, independente da competência. Hoje, há supervisores sendo substituídos por indicados políticos que ganham R$ 17 mil, enquanto um carteiro recebe R$ 1.800. É um absurdo. Antes, só queriam os cargos de R$ 30 mil; agora, pegam qualquer coisa, porque com o “enxugamento”, ainda arranjam um jeito de mamar.
O problema não é o trabalhador. Já disseram que o absenteísmo era a causa dos problemas. Mentira! O verdadeiro problema é a escravidão moderna que vivemos. Carteiros enfrentam condições desumanas, atendentes são assaltados diariamente – só no último mês, foram 40 assaltos no Tocantins.
Os salários consomem 60% do orçamento? Isso não é porque os trabalhadores ganham muito, mas porque congelaram as tarifas por 2 anos. Se tivessem reajustado em 2013 e 2014, a folha não passaria de 45%.
Enquanto isso, gastos absurdos:
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R$ 300 milhões em patrocínios esportivos (Confederações, Olimpíada).
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R$ 3 bilhões em dividendos retirados acima do necessário.
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R$ 490 milhões num PDI (Plano Diretor) que não deu em nada.
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R$ 50 milhões para trocar a marca dos Correios (a segunda mais valiosa do Brasil, atrás só do Itaú).
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R$ 1 milhão por mês só com 40 assessores indicados politicamente.
A tabela salarial é um escândalo:
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Um carteiro ganha R$ 1.800.
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O maior salário da empresa é R$ 48 mil.
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Quem ganha R$ 50 mil por mês deveria, no mínimo, dar lucro.
E o plano de saúde?
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Em 2 anos, o custo pulou de R$ 700 milhões para R$ 2 bilhões.
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Será que todos adoeceram de repente? Ou tem desvio?
O roubo do Postalis (fundo de previdência):
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R$ 7 bilhões sumiram.
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Os trabalhadores estão pagando R$ 3,5 bilhões, e o resto vai sair do caixa da empresa – dinheiro que falta para segurança, salários e investimentos.
Onde está o dinheiro dos Correios?
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Cada carteiro gera R$ 200 mil por ano para a empresa.
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Se custa R$ 60 mil/ano (com todos os encargos), onde estão os outros R$ 140 mil?
A situação hoje é de terror:
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Ameaças de demissão em massa.
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Insegurança (armas na cabeça todo dia).
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Assédio moral da própria direção.
Nós não somos o problema.
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Temos orgulho desta empresa.
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Eu carreguei mala, entreguei carta, trabalhei no balcão. Conheço os Correios.
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A culpa é da má gestão e da ganância que assola o país.
Senador, aqui está um projeto de fidelização que pode arrecadar R$ 42 bilhões/ano e salvar os Correios.
Obrigado.”
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares, José Rivaldo da Silva:
“Obrigado, senador. Nós da FENTECT temos o orgulho de militar ao seu lado, por tudo o que você fez e tem feito por nossa categoria, principalmente nas lutas pela anistia e pelos direitos dos trabalhadores. Queremos prestar essa homenagem e dizer que temos muito orgulho de ter um senador do seu nível nesta casa.
Também cumprimento Jesuíno, Rodolfo, Jaíson, o presidente Guilherme Campos, Gândara, nosso deputado Leonardo Monteiro, todos os companheiros de direção sindical, dirigentes sindicais presentes, a todos os aposentados e trabalhadores.
Para nós, este é mais um momento importante. Esta já é a sexta audiência pública sobre os Correios, a primeira no Senado, e essa oportunidade de debater os Correios tem sido fundamental.
Temos tido uma dificuldade muito grande de compreender este momento. Até outro dia, os Correios estavam sendo preparados para ser uma empresa de classe mundial rumo a 2020. Com o golpe [político], mudou-se a tônica da empresa. Veio um presidente que disse que a empresa estava quebrada, e agora, na gestão do Guilherme Campos, os trabalhadores são surpreendidos diariamente com ameaças de demissão.
Quero começar minha fala dizendo: eu escuto a CBN e vejo que o presidente sempre está lá, na CBN Campinas. Parece até que os Correios têm um convênio com a rádio, porque toda hora se fala em demissões. E nossas famílias ficam preocupadas. Minha esposa já me perguntou várias vezes: ‘O que está acontecendo com os Correios? Vai quebrar mesmo? Será que vocês vão continuar trabalhando?’ Quantas famílias de trabalhadores dos Correios não estão hoje preocupadas com essa situação?
Nós, trabalhadores, rebatemos essas narrativas com estudos do DIEESE e outros levantamentos. Analisando os números da empresa, não acreditamos que uma companhia que tinha caixa até 2012-2013 hoje não tenha recursos. E por que não tem? Por causa do superávit primário imposto pelo governo federal, porque não houve reajustes tarifários adequados, porque o governo controlava a inflação às custas dos Correios. Isso hoje falta no caixa e gera toda essa crise artificial.
Entramos então na questão do pós-emprego e do plano de saúde. O presidente repete que, se cobrar ou cortar o plano de saúde dos trabalhadores, os Correios sairão do déficit e darão lucro. Esses benefícios foram conquistados ao longo de mais de 350 anos de luta. São um legado dos que passaram por esta empresa, e nós não abriremos mão deles.
Uma direção empresarial do tamanho dos Correios deveria trabalhar a motivação dos servidores, pensar no futuro da empresa, em como melhorar o dia a dia. Mas como motivar o trabalhador se, ao ligar o rádio de manhã, ouve que os Correios estão quebrados, que vão cortar direitos ou demitir? Como ter ânimo para trabalhar sob constante ameaça?
Por isso, digo ao presidente e aos vice-presidentes aqui presentes: precisamos pensar na motivação dos servidores. As medidas atuais só cortam direitos. Em vez disso, deveríamos apresentar novos serviços à sociedade. Temos orgulho da marca SEDEX, uma criação que deu certo. As pessoas associam os Correios ao carteiro, ao SEDEX, mas hoje o carteiro é até agredido nas ruas porque as entregas atrasam.
Somos uma das maiores empresas do país, mas o Plano de Demissão Voluntária (PDV) não repõe mão de obra. Ou a direção pensa em expandir serviços ou ficaremos presos num debate de reduzir a empresa e retirar direitos. Nenhum trabalhador com 10, 20, 40 anos de Correios (como o Gândara) aceitará isso. Quem trabalha aqui ama esta empresa.
Precisamos compreender que a crise não é só dos Correios — é do país, é global. Enquanto isso, seguimos entregando correspondências nos lugares mais distantes do Brasil. Por isso, faço um apelo ao presidente Guilherme Campos: debata com os sindicatos um modelo para os Correios. Não resolveremos nada com demissões ou cortes.
Mais de R$ 100 milhões foram gastos com consultorias (só na atual gestão, R$ 40 milhões). Temos 108 mil trabalhadores, gente que construiu esta empresa, criou suas marcas, e hoje são tratados como descartáveis. A missão do presidente é chamar os trabalhadores para debater soluções, não assustá-los na imprensa.
O governo federal poderia resolver parte da crise repassando o que retirou dos Correios (como os R$ 10-15 bilhões do projeto de fidelização). Enquanto o país discute corrupção e favorecimento a empresas privadas, os Correios são preteridos em licitações. Se o governo priorizasse os Correios, já teríamos solução.
Precisamos transformar estas audiências em um projeto com eco no Congresso e no governo. Não queremos a privatização. O monopólio postal é vital — representa 50% da receita. Se abrirmos, as empresas privadas ficarão com as regiões lucrativas, e o Estado bancará as periferias.
Hoje, os Correios têm apenas 23% do mercado de e-commerce. Com nossa logística, por que não ampliamos? O que falta? Respostas da direção. Talvez falte motivação, diálogo, discussão da cadeia produtiva. Por exemplo: por que não padronizar entregas pela manhã em todo o Brasil? Se o trabalhador prepara o serviço à tarde para entregar no dia seguinte, a produtividade aumenta.
Então, presidente, olhe para esses detalhes. Primeiro, crie soluções para aumentar receita; depois, pense em cortes. Jamais aceitaremos perder direitos.
Para encerrar, agradeço ao senador Paulo Rocha. Os trabalhadores continuarão mobilizados e darão a resposta: nenhum direito a menos!
Obrigado.”
Rodolfo Manuel Marques do Amaral
Presidente da Associação Nacional dos Trabalhadores da Empresa
Boa tarde a todos e todas aqui presentes.
Ao companheiro Leonardo Monteiro, presidente da Frente Parlamentar, e ao nobre senador Paulo Rocha, que representa a Frente no Senado – lembrando que a Frente Parlamentar é mista –, nosso reconhecimento.
Agradeço também a presença do Carlos Clei, representando o Amazonas; do Paulo André, presidente do sindicato do Pará; e de dois grandes companheiros aposentados que sempre deram muita força à nossa empresa: Ademir e Enchuto.
Estamos aqui na quinta audiência pública sobre o tema. Realizamos quatro no Congresso Nacional, onde debatemos ações concretas. Desses debates, surgiu um projeto de lei, subscrito por diversos parlamentares, como a deputada Maria do Rosário (PT-RS), Leonardo Monteiro, Dácio Lima e outros do PDT, que propõe tornar os Correios uma empresa preferencial em logística.
Precisamos verificar se a tramitação no Congresso ou no Senado é mais ágil para garantir a preferência na logística, assegurando receita à empresa. Há estimativas de que isso pode gerar entre 20 e 67 bilhões de reais, conforme estudos do ex-vice-presidente Carrion.
Quero destacar também os erros contábeis da gestão anterior. O projeto “Correios de Classe Mundial” incluiu pós-emprego nas contas, criando um déficit artificial de 15,5 bilhões. Isso precisa ser revisado para que, em 2017, a empresa tenha um balanço realista.
O tema central aqui, proposto pelo senador Paulo Rocha, é a preocupação com as demissões e o fechamento de agências. Todas as entidades são contrárias a essa política, pois não basta cortar custos – é preciso gerar receita.
No Amazonas e no Norte do país, o fechamento de agências é um desastre. Muitas localidades dependem dos Correios como único serviço bancário. Pessoas que recebem um salário mínimo gastam 30% em transporte só para acessar serviços básicos. Isso é inaceitável.
Desde o início, defendemos:
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Universalização do serviço postal, garantida pela Constituição (Art. 21).
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Criação de um fundo com participação pública e privada para subsidiar regiões deficitárias.
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Regulamentação do setor postal, impedindo concorrência desleal de empresas como DHL e FedEx.
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Autonomia regional para políticas comerciais que aumentem a rentabilidade.
Não podemos aceitar um discurso de que a empresa está “quebrada”. O último governo retirou 6 bilhões dos Correios para cumprir metas fiscais – esse dinheiro precisa ser devolvido. Cortar custos só na base é um erro.
Por fim, reforço: os Correios são um patrimônio público, essencial para a integração nacional. Não podemos virar as costas para os mais pobres.
Propomos:
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Um seminário com todas as entidades para consolidar propostas.
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Suspensão imediata do fechamento de agências.
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Luta unificada contra a privatização.
Vamos à luta, companheiros e companheiras! Muito obrigado.
O representante dos aposentados, Sr. Jesuíno Filho:
“Presidente Paulo Rocha, demais componentes da mesa, deputados, nossos colegas ativos e aposentados…
Primeiro, gostaria de dizer que nós assinamos embaixo de todas as colocações feitas pelos nossos parceiros, representantes das diversas federações. Muito se falou em idade – idade de trabalho – e a FAACO, a Federação que sempre está em todos os movimentos, representa os aposentados dos Correios. Esses representantes fazem parte da FAACO e também da história bonita e grandiosa dos Correios.
Por exemplo, se me perguntassem hoje há quanto tempo estou nos Correios, eu diria: 57 anos. Porque me aposentei com 46 anos de trabalho, mas continuei vivendo os Correios diariamente, nas associações e federações de aposentados.
Tinha um amigo aposentado, que infelizmente faleceu recentemente, e ele sempre me dizia: ‘Acordo às 5 da manhã, escovo os dentes, faço a barba, tomo banho e me visto para ir ao trabalho… Só então percebo que já estou aposentado, que não estou mais nos Correios.’
Essa empresa sempre foi a minha paixão. E todos nós, apaixonados, sofremos com a situação em que a empresa se encontra hoje. Não conseguimos dormir com tudo isso – especialmente com o que diz respeito ao plano de saúde, que só foi estendido aos aposentados após uma luta de mais de 10 anos. Muitos caíram no caminho, e hoje essa conquista nos é ameaçada como uma bomba.
Sofremos com os descontos abusivos no Postalis, que chegam a mais de um quarto do nosso benefício, afetando drasticamente o sustento de nossas famílias.
Agora, a direção da empresa anuncia medidas unilaterais: suspensão de férias, demissões motivadas, fechamento de unidades e uma nova estrutura que surpreende a todos – e que, com certeza, trará ainda mais consequências negativas.
Essa situação desastrosa está destruindo a empresa que ajudamos a construir, uma instituição que é orgulho do povo brasileiro, presente nos cantos mais distantes do país. Não podemos ficar parados! Por isso, viemos ao Parlamento, buscar o apoio de senadores e deputados para salvar os Correios.
Nós, aposentados, sofremos a cada dia ao ver tudo o que ajudamos a levantar sendo desmontado. Mas acreditamos, como todos aqui, que ainda é possível reerguer essa empresa, fazê-la voltar a ser o orgulho do Brasil – e até mesmo ser reconhecida internacionalmente.
Para isso, concordo com o que já foi dito: é preciso um trabalho conjunto. A empresa não pode decidir tudo sozinha, de forma isolada. Precisa discutir com as federações, valorizar seu maior patrimônio: seus trabalhadores.
Contamos com vocês para que saia daqui uma solução definitiva – em favor dos aposentados, dos empregados, da família cetista e, acima de tudo, do povo brasileiro.
Muito obrigado.”
Reportagem da Equipe de Imprensa da AACB.